quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Capítulo 6
And I Love Her



- Mãe, tô saindo com o tio Jack. - Herman gritou em direção à cozinha, enquanto o padrinho abria a porta da rua.

Minutos depois, os dois estavam caminhando pelas calçadas parcialmente congeladas de Manchester. Aquela manhã de dezembro estava particularmente fria, e tanto Jack quanto Herman se encolheram dentro dos casacos, permanecendo em silêncio até entrarem em uma lanchonete próxima.

Depois de se acomodarem em uma das mesas, a garçonete se aproximou, para anotar os pedidos.

- Um café irlandês para mim, e se eu não me esqueci, um eggnog para o rapazinho ali.

Herman assentiu com um sorriso. Assim que a moça se afastou, Jack reclinou-se para trás na cadeira, cruzou os braços na altura do peito:

- Desembucha, moleque - disse ele, em um tom brincalhão - Está escrito na sua cara que você está doido para me contar o que aconteceu. Pelo visto a francesinha é história antiga, não é?

- Antiga e complicada - Herman começou, mais sério do que Jack esperava. O rapaz coçou mais uma vez a cabeça, tentando encontrar um modo de contar o ocorrido sem implicar Meridiana na história, por fim decidiu-se ir direto ao ponto central - Ela está com outro.

Jack deu um tapa na própria testa, muito semelhante ao que o sobrinho dera em si mesmo, mais cedo em casa. Herman quase riu da atitude do tio e no quão parecidos eles dois podiam ser.

- Pelos óculos do Stan Lee, você não está me dizendo que você está com essa menina nova para curar dor de cotovelo, não é? Seria muita sacanagem com a menina.

Herman balançou a cabeça. Escutando o tio, mal dava para acreditar que era o mesmo cara que na juventude rodou metade do mundo colecionando namoradas em cada pais que passava. Se bem que, apesar da coleção, ao que constava o rapaz, o tio era bem fiel a cada uma das moças. Pelo menos enquanto estava com elas. No fundo, Jack sempre foi um romântico incurável como o próprio Herman, só não teve a sorte de encontrar a "pessoa especial" como o próprio padrinho costumava dizer.

- Ela é a Mary Jane, tio! - Herman cortou. - A moça nova...

Um sorriso amplo abriu-se nos lábios do homem mais velho. Jack era tão nerd quanto o sobrinho. Aliás, foi ele quem ensinou Herman a gostar de quadrinhos, que o fez descobrir o imenso e maravilhoso mundo geek que os circundava. Por isso, o impacto daquela frase foi grande para Jack.

- Você está falando sério? - ele perguntou, a felicidade pela sorte do sobrinho impressa em cada sílaba.

- Estou! - Herman disse com ainda mais confiança ao perceber a reação entusiasmada de Jack - Ela é a minha MJ... É bonita, divertida, determinada, corajosa....

Jack Mercury soltou uma risada alta, enquanto, naquele mesmo instante, a garçonete depositava na mesa os pedidos.

- Pelo visto você realmente está ferrado, Hermie. Está mais que na cara que você está caidinho pela moça. Mas como é que isso me foi acontecer? Quem é ela?

O rapaz tomou um gole do seu eggnog. O calor da bebida fez com que ele se sentisse ainda mais confortável para contar para o tio como se apaixonara por Lorelai McGuire, excluindo apenas as passagens que envolviam o Olho do Grifo. Começou pela investida mal-sucedida em Yvaine Lancaster e em como a moça abrira os olhos dele sobre o modo como Herman se escondia atrás do amor impossível por Selune... Depois disso, o coração do rapaz estava aberto para que Lore morasse lá em definitivo. Mas agora, colocando as coisas em retrospectiva, pareceu-lhe que talvez estivesse se apaixonando pela Fada Prensada muito antes disso... A primeira vez que realmente notou alguma coisa de diferente, de especial na menina de olhos caleidoscópicos foi na festa do dia das Bruxas, quando ela lhe entregou o primeiro texto do Olho do Grifo.

- E vocês dois só não se beijaram por que o Hunter não percebeu o que estava acontecendo? - Jack repetiu a última fala do sobrinho, em meio a gargalhadas.

- Isso, fica rindo da tragédia alheia - Herman retrucou, fingindo estar zangado.

Jack inclinou-se na mesa, de modo que ficasse mais próximo do sobrinho. A expressão em seu rosto mudou completamente, o ar brincalhão fora substituído por uma sobriedade incomum.

- Por tudo que você me falou, o beijo é o menos importante. Ele vai acontecer, mais cedo ou mais tarde. Se o que você sente por essa menina for realmente como me disse, você foi mesmo é abençoado. Tem gente que passa a vida inteira sem saber o que é amar de verdade. Eu posso dizer isso por experiência própria. Então, Hermie, se você acha que ela realmente é a sua MJ, corre atrás e não deixa ela escapar.

- Eu vou fazer isso. - o rapaz assentiu com determinação.

- Já comprou o presente de Natal dela? - o mais velho perguntou, movido pela curiosidade.

- Aham. Um par de presilhas cor de rosa, com detalhes em strass - o mensageiro respondeu, um pouco vermelho, imaginando que talvez o tio achasse aquele um presente besta e simples.

Jack notou o desconforto do sobrinho, e pousou a mão no ombro dele para tranqüiliza-lo.

- Sabe o que eu aprendi durante todos esses anos? Que essa coisa de comprar jóias e presentes caros e cheios de frescuradas é o que faz a cabeça de uma mulher é besteira. Cada mulher tem seu presente ideal, e se esse for a cara dela, vai valer mais que qualquer anel de brilhantes.

O rapaz sorriu, mais calmo.

- Lore gosta de rosa... Mas fiquei um pouco na dúvida sobre o que dar para ela. A Meri quem me sugeriu as presilhas.

O semblante do mensageiro ficou ainda mais iluminado ao lembrar-se do pergaminho que recebera com a resposta da amiga. Era como se Meridiana já estivesse esperando por uma pergunta daquelas, e ele não conseguia imaginar exatamente como ela poderia ter adivinhado, já que não ficara até o fim da festa e tampouco conversaram depois disso. Além da sugestão, a ruiva deixara bem claro que queria "saber os detalhes" assim que encontrasse seu "maninho".

- Ela vai gostar, eu seu que vai...

- Em todo o caso, para dar sorte para o novo casalzinho, eu vou dar a minha contribuição de tio coruja - Jack falou enquanto tirava da carteira um maço com algumas notas relativamente altas de libras - Esse é para o dia dos namorados. Vai ser o primeiro que vão passar juntos, e te conheço o suficiente para saber o quanto isso é importante para você.

Herman apenas sorriu em agradecimento. Não havia mais nada que pudesse dizer ao tio a não ser...

- Obrigado. Por tudo. Pela conversa e pelo dinheiro. Vou tentar usá-lo bem.

- Para isso é que servem os padrinhos! - ele respondeu, enquanto, com um sinal, chamava a garçonete para fechar a conta.

- Estamos indo para casa? - Herman perguntou.

- Que casa o que, moleque. Ainda falta eu comprar seu presente de Natal. Nós vamos é fazer um tour pelos sebos da cidade. Tenho certeza que vamos encontrar alguma coisa perfeita para você. Com sorte acabo encontrando alguma coisa para mim também.

Herman meneou a cabeça, realmente feliz. Feliz pela companhia do tio. Feliz por ter compartilhado com alguém o que sentia por Lore. Feliz por estar sentindo aquilo por ela. Só não estava mais feliz porque a razão do seu afeto estava a léguas e dias de distância dali. Mas, como ele mesmo dissera para sua fadinha, teria que se contentar com as cartas. Quando voltassem para Hogwarts, teriam todo o tempo do mundo para matarem as saudades.

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