quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Capítulo 3
All You Need Is Love



- Lorelai, você está bem? - Liz perguntou à filha, que estava quase em transe na mesa na hora do jantar.

- Hã? - a garota sobressaltou-se. - Tá tudo bem, mãe... A senhora disse alguma coisa?

Liz olhou de soslaio para a menina.

- Tem certeza? Pedi para você passar a alface e você continuou parada, de boca aberta, olhando para o nada...

- Foi, é? Nem percebi...

A quintanista de olhos caleidoscópicos repassava mentalmente mais uma vez a carta que recebera do mensageiro. Havia lido tantas vezes em tão pouco tempo que decorara até as vírgulas. Ele estava com saudades! Quase caiu dura ao ler aquilo, esperava receber alguma correspondência do mensageiro, mas nunca sonhou que fosse algo tão fofo.

Melinda e Felicity se levantaram da mesa nesse instante.

- Terminamos. Vamos lá dentro rapidinho resolver umas coisinhas e já voltamos, ok? - disse a mais velha, enquanto a mais nova a seguia, com um ar extraordinariamente matreiro.

Lore deu mais algumas garfadas na comida e teve um sobressalto. A carta! Havia deixado sobre a escrivaninha e, como privacidade naquela casa era algo raro, estava dividindo o seu aposento com as duas irmãs, pra variar um pouco. A menina sumiu das vistas dos pais e dos dois irmãos tão rápido quanto um relâmpago. Ao chegar no quarto, confirmou suas suspeitas. Melinda havia lido a correspondência enquanto Felicity dizia "Bem que a Heather me falou pra ficar de olho... Eu sabia que tinha treta aí!"

- Me dá isso, Mel! - a dona da correspondência pulava sobre a irmã, tentando alcançar o braço esticado da moça que segurava o pergaminho de Manchester. - Isso não é justo, me dá!

- Que bonitinho! - a setimanista provocava. - Agora precisamos só finalizar o processo. Eu posso ser madrinha? Afinal, eu fui mediadora do passo derradeiro, assim eu creio...

- Haja casório e filho pra tanta madrinha, mas como por enquanto não tem ninguém casando, nem parindo, nem namorando, ME DÁ ISSO AQUI, MEL! - Lorelai continuava aos saltos, tentado recuperar sua carta.

- Só se você me mostrar o que você respondeu, pra eu ver se está de acordo... - Dashwood continuava brincando com a irmã.

- Tarde demais, já foi enviada. - a moreninha mentiu, finalmente tomando posse do que era seu. Havia rascunhado uma carta, mas ainda não tinha enviado ao mensageiro. Queria revisar algumas vezes para ter certeza de que estava adequada. - Respondi assim que li, nem sei se estava boa... Acho que eu fui meio seca. Por que eu sou tão idiota, por que, por quê?

Melinda encarou a irmã, séria. Pediu licença para que a mais nova as deixassem a sós para conversarem e Felicity deixou o quarto, mas não sem reclamar.

- Maninha, qual é o problema? O menino está caidinho por você, ainda não percebeu, Butterfly? Por que tanto medo de ser você mesma?

Lorelai suspirou, resignada, lembrando-se de Selune.

- Eu ainda fico em dúvida, Mel. Ele gostava de Selune Priout, do sexto ano, conhece? A loirinha francesa? Ele era louco por ela desde que se entende por gente, e de repente, em menos de dois meses, eu recebo uma carta dessas... Não que eu não tenha gostado, mas não dá pra ter certeza de nada até... Até... Bom, até qualquer coisa acontecer para que eu tenha certeza de alguma coisa, oras.

Compreendendo a situação, a setimanista sorriu.

- Madame Butterfly, as coisas são assim mesmo... Ninguém explica o que acontece no coração da gente, ninguém manda nos próprios sentimentos... – Melinda fez uma breve pausa. - Infelizmente... Mas no seu caso, felizmente, Lore! Eu acho que a loira do sexto ano rodou, a menos que Mercury seja um cachorrão, o que eu não creio que seja verdade... Pelo menos, não pelo que Yvaine fala. Relaxa, eu tenho certeza que o mocinho está completamente apaixonado por você. Vai por mim, eu não costumo me enganar com essas coisas... - e suspirou de novo, com o sorriso sumindo por um instante dos lábios.

A quintanista sentou-se na cama ao lado da irmã, que lhe emprestou o colo. A cabecinha de borboleta estava em polvorosa, sem conseguir coordenar os sentimentos e a razão num mesmo compasso.

- Espero que você tenha razão, Inha...

Enquanto fazia cafuné em Butterfly, como Melinda chamava Lore, a setimanista manteve o semblante algo carregado, sério, até um pouco triste. Meneou a cabeça como que tentando afastar os pensamentos indignos daquele feriado tão especial. Queria que pelo menos durante aquelas duas semanas, ela pudesse fazer o que aconselhou à irmã – ser ela mesma. Como se isso fosse possível...

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