quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Capítulo 13
The Night Before



Na véspera de ano novo, Lorelai, Felicity, Melinda e Matthew encontravam-se na sala de estar da residência da família, em York, ouvindo CDs de rock trouxa. Os quatro irmãos se divertiam, cada um a seu modo - Lorelai apresentava as canções favoritas à irmã mais velha enquanto cantava. Matthew acompanhava o som com um violão no colo. O garoto já dedilhava - e bem - o instrumento. Felicity tentava acompanhar a irmã na cantoria, mas desafinava demais (o que foi decisivo para que a menina prometesse a si mesma, ir aos ensaios do coro do professor Flitwick com Lorelai, ela também iria aprender a cantar). E Melinda, divertia-se conhecendo um pouco mais do mundo não mágico, embora, paradoxalmente, aquela era uma família bruxa. Era verdade que Maddison, o pai da trupe (quase uma banda) na sala, havia nascido trouxa, mas o homem era tão sisudo e tão fechado que pouco se sabia sobre sua vida antes de descobrir-se bruxo. Tudo o que Lorelai sabia era que o pai perdera a mãe ainda criança e havia perdido contato com a família pouco tempo depois de ingressar em Hogwarts.

Eis que finalmente, Maddison McGuire deu o ar de sua graça para ficar perto dos filhos. Cumprimentou os meninos, sentando-se no sofá. Com um discreto aceno de varinha, ligou um artefato que lembrava, em muito, uma televisão trouxa. Os filhos, alheios ao que acontecia ao redor, continuavam a cantoria. Liz estava na cozinha com Raphael, que naquele dia estava um pouco febril - o garotinho havia pegado uma gripe após aprontar todas na neve enquanto as irmãs descuidaram dele, dois dias antes. Logo, o humor de Liz não era dos mais agradáveis ao tratar as duas filhas.

- Eu não já pedi a vocês para procurarem outro lugar para a cantoria? Eu quero ver o noticiário. - Maddison falava baixo, porém com a voz firme e autoritária.

- Ah pai, a gente não pode tirar o som da sala! O senhor não pode assistir na cozinha? - Lore sugeriu, ainda rindo e cantando.

O olhar do pai foi severo.

- Eu já mandei vocês procurarem outro lugar para acamparem, será que eu estou falando grego ou algo assim?

A quintanista tentava compreender o que estava acontecendo. Seu pai nunca fora de dar ordens a eles, nem de se incomodar com o som ou se importar com o que lá eles estivessem fazendo. Não entendia que raios estava havendo com ele para empacar com uma coisa tão idiota. Deu os ombros, despreocupada.

- Ah pai, é dia de festa, daqui a pouco a gente vai pra casa da vovó e você assiste o que quiser... - Lorelai falou quase implorando, levando a situação na esportiva.

Num rompante inesperado, o pai levantou a voz.

- Você não me responda e me obedeça quando eu der uma ordem, está me entendendo, Lorelai?

O sangue da grifinória ferveu. Aceitava sem maiores problemas a ausência que ele impunha goela abaixo, na vida dela. Aceitava que esse era o seu jeito de ser, que talvez tivesse sofrido muito ainda bem novo, para ter aquele tipo de comportamento. No entanto, estava claro como uma manhã de sol, para Lore, que Maddison queria mostrar uma autoridade perante os filhos que ele não tinha. Para impressionar Melinda, talvez. E isso, ela não aceitaria, não tinha sangue de barata tanto. Que moral ele tinha para vir do nada impondo alguma coisa para eles?

- Pai, você está querendo aparecer pra Mel, é isso? - a Fada Prensada fitava o pai, desafiadoramente.

Foi o suficiente para que o senhor McGuire se levantasse, sacando a varinha do bolso, apontando para a filha.

- Não ouse me responder assim. É isso o que sua mãe ensina a vocês? Vou ter que te castigar para ensinar modos nessa altura da vida?

Ao contrário de intimidá-la, a reação que a atitude paterna causou na quintanista foi a de incitar ainda mais a ira da menina. Lorelai levantou-se do chão, sem varinha, sem coisa alguma, e encarou o pai nos olhos.

- Se é para me ensinar alguma coisa, devia ter feito antes, não? - ela o desafiava - Se quer me castigar, vá em frente, eu não tenho medo de você, entendeu bem?

Melinda assistia a cena num canto, assustada com o surto da irmã. Felicity abria e fechava a boca, sem saber o que dizer. Matthew correu até a cozinha para trazer a mãe, o que não foi necessário. Ao ouvir a discussão na sala, Liz se dirigiu espontaneamente até o foco do impasse, interpondo-se entre pai e filha.

- Mãe, o pai... - Lorelai começou a justificar. Sabia que pelo menos nesse ponto, a mãe sempre estava do lado deles. Ela nunca permitiu ao marido que ele favorecesse ou castigasse qualquer um dos filhos, uma vez que ele sempre fizera questão de se ausentar e deixar tudo por conta dela.

- Lorelai, pelo amor de Merlin, cale a boca! - Liz estava histérica - Você quer o que? Acabar com a festa de todo mundo? Não pode conter seus rompantes nem na véspera de ano novo? - ouviram Raphael abrindo a choradeira, talvez por conta da tensão - E então, está satisfeita com o que conseguiu?

Incrédula e sem forças para prosseguir com a discussão, a moreninha encarava a mãe sem entender patavinas. Sentiu os lábios tremerem, mas não iria chorar ali, na frente deles. Correu porta afora, sem se agasalhar, deixando pra trás aquela situação que poderia nunca ter acontecido. Nevava, mas ela não sentia frio. Como não tinha muito para onde ir naquela hora, acabou parando na casa da avó. Entrou no antigo quarto de solteira da tia, jogando-se na cama e perdendo-se em lágrimas. Não entendia o que estava acontecendo, menos ainda o que havia acontecido instantes atrás.

Ao acalmar-se um pouco, procurou um calendário na penteadeira da tia. Faltava menos de uma semana para o fim das férias. Passou a mão num pergaminho, rabiscando-o, ainda trêmula. Não conseguiu escrever muita coisa. Finalizou como estava. Procurou a coruja da avó, enviando-a imediatamente.

No dia seguinte, em Manchester, um rapaz recebia uma carta um pouco diferente das demais que recebera da garota de olhos de caleidoscópio. Virou o pergaminho várias vezes tentando localizar mais alguma coisa, mas em vão. Tudo o que estava escrito ali era "Feliz ano novo, P.P."

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