sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Prólogo
Here, There and Everywhere



O Expresso de Hogwarts foi perdendo velocidade aos poucos. Lorelai enfiou o nariz no vidro da janela do trem, espiando do lado de fora. Logo a locomotiva parou na estação londrina de King Cross. Durante a viagem, ficara ocupada em várias cabines, conversando ora com as mafiosas, ora com as irmãs e Heather, ora com Herman, Raven, Sat, Yvaine e Luke. Nos poucos momentos que estivera na cabine desses últimos, notou que o ruivo a observava com um ar ligeiramente constrangido. Certamente Lucas Hunter teria enfim percebido a mancada que dera. Por pouco o ruivão não conheceu o peso da varinha de McGuire numa azaração. Ainda assim, águas passadas não movem moinhos e a quintanista limitou-se agir com naturalidade.

A garota saltou do trem, encolhendo-se dentro de seu casaco. Um vento gélido tocou a pele da menina, fazendo com que ela e suas fiéis escudeiras mafiosas tiritassem de frio. Fofoso, no bolso direito do agasalho, não se atreveu a pular fazendo o escândalo costumeiro. Parte pelo medo de todo aquele movimento, parte pelo frio que também o assolava. Brigitte, a amasso das irmãs McGuire, já acostumada com o movimento da estação londrina, dormia sem se incomodar com os transeuntes, em sua confortável e odiada gaiola para gatos, agasalhada num dos seus inúmeros pijamas de flanela.

Lore olhou ao redor tentando localizar algum membro da família que poderia tê-las buscado na estação para seguir viagem para York, mas não identificou ninguém naquele primeiro instante. Olhou para o relógio pequeno que trazia em seu pulso. Chegaram cerca de 10 minutos adiantados.

Felicity e Heather haviam descido do trem com Melinda. A quintanista olhou em volta novamente, tentando localizar o mensageiro.

Herman desceu o mais rápido que podia do vagão. Raven, Sat, Yvy e Luke vinham logo atrás. O grifinório pensou que com alguma sorte, talvez, pudesse ter alguma palavrinha a sós com Lore antes de buscarem-na na estação. Rapidamente ele a localizou junto a Sam e Mina, mas antes que pudesse se aproximar, percebeu que um rapaz moreno e relativamente alto se aproximou da domadora, que parecia muito iritada, enquanto as amigas se divertiam com a cena. Ele achou melhor esperar um pouco antes de se aproximar do grupo, quanto menos gente perto da fadinha, melhor.

Sam e Lorelai riam às custas da "Mimuca" e a lufana não pode deixar de fazer o comentário que a grifinória estava esperando que ela fizesse sobre o primo da generalíssima, quando ela se foi sem se despedir direito..

- Mimuca é de lascar, mas vindo daquele ser quase divino, a gente perdoa. - Sam brincava, entre gargalhadas.

Lore apenas assentia com a cabeça. A fada prensada buscou com olhos atentos, mais uma vez e rapidamente, o mensageiro, não o encontrando. Porém Heather continuava fazendo companhia a Felicity, o que indicava que ele deveria estar por perto. Voltou a sua atenção para Samantha.

Logo a lufana vislumbrou os pais se aproximando. Lore não pode deixar de notar o ar intrigado da amiga ao ver os Blair chegando pessoalmente na estação para buscá-la. Cumprimentou o casal e logo despediu-se da amiga com um abraço, que fixou os olhos num ponto mais distante e pôs-se a acenar freneticamente assim que se soltou de Lorelai.

- Feliz natal pra você também, Parker! - ela gritava, dando tchauzinho para Herman.

A moreninha virou-se instantaneamente, para verificar se não era mais nenhuma pegadinha da lufana. O que viu fez com que a menina abrisse um gigante e satisfeito sorriso.

Herman parou ao lado de Lore com um imenso sorriso nos lábios.

Enquanto observava a Máfia conversando com o amigo de Mina, o Mensageiro percebeu que seria quase impossível ficar a sós com a Fada Prensada. Ao contrário da estação de Hogsmeade, relativamente deserta porque muitos estudantes optaram por voltar para casa via Pó de Flu, King Cross estava apinhada de pessoas. Parecia que, devido à preocupação por causa da guerra, as famílias em peso haviam decidido buscar os filhos, de modo que havia mais pessoas esperando que alunos desembarcando.

-Ei, MJ - ele cumprimentou, tentando imaginar o que poderia dizer a ela depois do quase beijo, mas não encontrando as palavras, pelo menos as que ele realmente desejaria dizer.

- Oi, Herman... – a menina sorria, desconcertada. Queria dizer alguma coisa que prestasse para a razão de seu afeto, mas todo o arsenal de palavras que possuía registrado em sua memória pareciam ter simplesmente feito as malas e ido embora. A garota olhava do chão para o mensageiro, e de volta para o chão, e dali para um lado e para outro, tornando a olhar para o rapaz. Enquanto observava os próprios pés, uma grande mecha de franja extraordinariamente lisa, caiu sobre os olhos de Lorelai, acortinando-os quando ela tornou a fitar o moço.

Herman tratou prontamente de retirar os cabelos que pendiam no rosto da menina, acomodando-os delicadamente atrás da orelha dela. Permitiu-se aproximar um pouco mais de Lore, fitando-a carinhosamente. A garota olhou de esguelha para o rapaz, colocando outra mecha de cabelo atrás da orelha contra-lateral.

- Que silêncio... - ela soltou sem pensar.

Ele riu, ainda segurando o rosto dela de modo carinhoso.

- É, acho que um amasso comeu nossa língua. - ele fez uma pequena pausa antes continuar, criando coragem para uma idéia que surgira em sua mente naquele minuto - Eu... Eu posso te escrever durante o feriado?

Os olhinhos da menina brilharam mais que o habitual. Não escondeu o sorriso franco ao ouvir a proposta de Herman. Na falta da companhia com a qual ela já estava tão habituada, receber notícias ainda que via coruja era um grande negócio. Qualquer coisa que trouxesse a presença do mensageiro para perto de si durante as próximas duas longas semanas lhe era muito bem-vinda.

- Claro que pode! - ela respondeu eufórica - Deve, aliás. Preciso de notícias, tô muito mal acostumada a te ver por perto o tempo todo e... - e sentiu as bochechas exageradamente quentes, quase febris, tendo plena consciência de que deveriam estar púrpuras. Mesmo assim, insistiu consigo mesma para ser um pouco mais óbvia (se é que isso seria possível) - Vou sentir falta...

O rapaz sentiu seu rosto corar um pouco ante o entusiasmo de Lore. No peito uma sensação morna de felicidade se formava. Ficariam várias dias separados. Saber que receberia notícias dela enquanto estava em Manchester seria um alento, faria os dias dele bem mais felizes, porque, pela primeira vez desde que entrara em Hogwarts, nunca, as férias de lhe pareceram tão indesejáveis... Mas teria que se contentar com as cartas.

- Também vou sentir sua falta - ele respondeu.

Ela sorriu amplamente, não se cabendo em si de tanto contentamento. Um pouco mais segura, aproximou-se mais de Herman, segurou o rosto do menino suavemente, encostando seus lábios rosados numa das bochechas dele, dando-lhe um beijo delicado. Sem pensar no que fazia, deixando-se levar pelo clima de despedida, o rapaz a enlaçou, estreitando-a num abraço. Com o coração aos saltos, a menina deixou repousar a cabeça no ombro do Mensageiro.

- Lore, mamãe chegou! - a vozinha fina de Felicity chamava a irmã.

A quintanista, num sobressalto, soltou-se de Herman, sentindo momentaneamente o sangue sumir da face. Olhou para as duas irmãs e para Heather, que ainda estava com elas, e Felicity apontava ao longe, sua mãe e seu tio caminhando para onde estavam. Insegura, sem saber se a mãe a teria visto abraçada com o rapaz ou não, achou mais prudente seguir com as irmãs até a genitora e o tio baterista, irmão de sua mãe.

- Melhor eu ir... - a garota falou baixo - A gente se fala então?

- A gente se fala. - o rapaz afirmou.

- Promete?

- Prometo. - o Mensageiro respondeu sorrindo.

Lorelai despediu-se de Heather, dando um abraço apertado na Chispinha, que se pendurara no seu pescoço e, em seguida, correu em direção ao irmão. A garotinha acenava freneticamente para Felicity, quase gritando.

- Fe, eu vou te escrever, viu?

A Fada Prensada seguiu com Melinda e a irmãzinha, imersa em pensamentos. Aquelas férias seriam definitivamente, muito, muito longas.

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