Capítulo 14
Here Comes The Sun

Estava finalmente na hora de voltar para a escola. Os últimos dias das férias não foram muito favoráveis para a Fada Prensada, que apesar de agir com naturalidade em casa, ainda não havia engolido o incidente da noite de ano novo.

Um calor brando, entretanto, apesar da tensão dos últimos dias, acalentava a menina de olhos caleidoscópicos. A mesma que tinha a estranha mania de enxergar a vida sob uma ótica completamente diferente. Não conseguia mais choramingar de raiva do pai ou da atitude inesperada da mãe. Também não se desculpou, nem ouviu pedido de desculpas. Mas as coisas aparentemente voltaram ao ritmo normal. Iria enfim voltar para Hogwarts, depois de duas semanas quase eternas, ela iria finalmente rever o Mensageiro e a Máfia.

Arrumava o malão com cuidado para não deixar para trás nenhum dos presentes de natal. Claro que o par de presilhas de strass estavam bem seguras, ornamentando os fios finos de cabelos castanhos da fadinha. Quer dizer, seguras enquanto Fofoso não resolvesse pular em sua cabeça. Por garantia, tratou de colocar o bichinho bem enrolado numa luva e, depois, o acomodou no bolso do casaco.

O porta-jóias de porcelana iria junto da bagagem de mão, para não correr riscos durante a viagem. Brigitte já estava de "malas prontas" também. Ela e sua infinita coleção de pijamas feitos por Liz e lacinhos feitos por Lore. Também acomodou na bagagem de mão o presente de natal que fez para Herman. A custo, a quintanista conseguiu terminá-lo. Não bastasse, agora precisava de óculos para trabalhos que exigissem algum esforço visual, o eu incluía escrever, ler, estudar, e tricotar. Chegou a acreditar que não daria tempo, e que não se acostumaria com as lentes algum dia, mas depois que se trancafiou no quarto, na última semana de férias, o trabalho rendeu e o resultado realmente a agradou.

A despedida da avó, para variar, foi triste. Ela sempre chorava. Parecia que todas as vezes que ela voltava para a escola era a primeira vez. A mãe também sentia muito, e naquele ano ainda mais, já que tinha duas filhas longe de casa. Não gostava nem de imaginar o ano seguinte, quando teria três dos quatro longe durante praticamente todo o ano.

Novamente, Mark, o tio baterista, guiava a condução das meninas, acompanhado de Liz e Raphael. Maddison preferiu despedir-se delas em casa mesmo. Nos últimos dias, apesar de não tocar no assunto da discussão, ele parecia mais solícito e atencioso.

King Cross estava cheia de gente. Atravessaram a barreira para alcançarem a plataforma 9 ¾ e logo, os olhos caleidoscópicos de Lorelai McGuire procuravam as amigas e o Mensageiro. Ao longe, viu Mina MacFusty chegando, acompanhada de um casal. A julgar pelo tamanho da barriga da jovem e bonita senhora que a acompanhava, deduziu que aquela seria sua mãe. A domadora estava com a face pálida e parecia abatida. Uma pontada de preocupação surgiu na cabecinha de Lore. No entanto, preferiu esperar encontrar a mafiosa no vagão, para não interromper a despedida dela e dos pais.

Despediu-se enfim da sua mãe com um abraço apertado, e, mais uma vez, Felicity abriu o berreiro, parando quase instantaneamente quando uma garotinha de olhos vivos se aproximou delas.

- Oi Fe! Oi Lore! - Heather cumprimentava as irmãs enquanto se atirava nos braços das duas.

Imediatamente, Lorelai se pôs a procurar por Herman. Graças a Merlin, Chispinha foi discreta, não mencionando o irmão na frente de sua mãe. Felicity apresentou a amiguinha para Liz, que apressava a entrada das meninas no trem. Estava quase na hora de partir e elas ainda nem haviam acomodado as bagagens.

Melinda se despediu também de Liz e Raphael, entrando no vagão antes das outras, para procurar um lugar para elas. Lorelai seguiu logo atrás, atenta, ansiando encontrar Herman. Mas o que ela viu, logo num primeiro momento, foi uma moça de costas, com cabelos ondulados tão castanhos quanto os seus (talvez um pouco mais claros), e gritou.

- Sam!

- Lore!!! - a lufana se jogou no colo da amiga, abraçando-a.

As duas se puseram a procurar uma cabine para a Máfia e, assim que encontraram, foram espiar Mina e os pais, comprimindo as bochechas no vidro da janela do trem. Logo a domadora seguiu para a locomotiva acompanhada de um homem, que logo descobriram ser o famosíssimo tio Godfrey.

E logo começaram a falar por alto as novidades das férias e descobriram que Mina estava doente. Cheia de manha, a generalíssima acomodou a cabeça no colo de Sam e as pernas no colo de Lore, e ali ficou durante praticamente toda a viagem, sequer se importando com o carrinho de guloseimas.