quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Capitulo 4
Another Girl



Querido Hermie,

Você não faz idéia do quanto eu fiquei feliz ao receber a sua carta! Sério! Pode entupir a caixa de correio o quanto quiser, eu não ligo... Bom, se bem que não temos caixa de correio aqui em casa, mas tudo bem. Sinto que as corujas vão trabalhar bastante nesse feriado...

Fico contente que esteja tudo bem por aí. Aqui, de fato, tudo anda muito divertido. Inclusive para as minhas irmãs, que puseram as mãos na carta que você me mandou assim que eu desgrudei dela. A Mel está aqui me perturbando até agora por causa disso. Às vezes eu ainda custo crer que tenho outra irmã, e tenho mais dificuldade ainda pra acreditar no quanto aquela moça cheia de pose que eu via de longe na sala comunal pode parecer uma criança! Acho que ela gostou de estar aqui, pelo menos vive sorrindo, brincando, e para a Fê está sendo ótimo. Nem parece a mesma menininha emburrada de sempre. As duas se adoram, não se largam pra nada, nem pra me encher as pacuínhas...

Legal saber mais da sua família. Você não tinha me falado das suas avós, nem dos seus tios. Também, acho que eu falo tanto que nem deixo você contar muita coisa, né? Quando você puder, eu adoraria saber mais. Gostei de saber do restaurante! Sabe que a minha mãe também é uma excelente cozinheira? Enquanto estamos em casa, tenho que ficar me vigiando, senão viro uma bolinha e é bem capaz de eu voltar a Hogwarts rolando. Vivo dizendo a ela para abrir um negócio próprio, mas ela me responde sempre que isso é complicado. Mas que eu acho que daria muito certo, isso eu acho.

De resto, minha casa e a de minha avó estão entupidas de gente. Tios e primos saindo pelo ladrão. Crianças pra tudo quanto é lado, você precisa ver a festa! Minhas tias continuam falando pelos cotovelos (tive a quem puxar), meu tio continua me paparicando (não sei se já cheguei a comentar com você sobre isso, o fato é que às vezes até incomoda um pouco, sabe?), minha avó continua aprontando as suas presepadas (também tive a quem puxar nesse aspecto), Matthew, pra variar, quer saber tudo sobre a escola (ele não vê a hora de começar a estudar em Hoggy) e Raphael, um pestinha. Meu pai também continua o mesmo: calado, na dele, sem interagir muito com o clima festivo. Básico, é sempre a mesma coisa...

Acho que escrevi demais, e no fim das contas, eu também acabei enrolando e não disse o que eu realmente queria... A verdade é que eu não faço idéia de como dizer o que sinto. Eu estaria mentindo se eu dissesse que não estou com saudades. Também seria uma grande lorota dizer que eu não estou contando os dias para o feriado terminar. É estranho como algo pode ser tão bom e tão ruim ao mesmo tempo...

Quanto à festa do Slug, eu nunca pensei que pudesse ser tão boa. Nem imaginei que pudesse estar agora rabiscando um pergaminho para te responder uma carta. Aliás, a carta mais querida que eu já recebi. Espero outras, ansiosa.

Beijos.
Lore

P.S.: A Fê também manda um abraço pra Heather.


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Herman dobrou o pergaminho, colocando-o novamente dentro do envelope, e guardando-o dentro da gaveta de sua escrivaninha. Um sorriso abobalhado continuou em seu rosto, mesmo depois de ler pela milionésima vez a carta que Lorelai havia escrito para ele naquela manhã. Sentiu repentinamente um peso em suas costas e os cabelos da irmã caçula a tampar-lhe parte do rosto.

- Chispinha! Quantas vezes vou ter que te pedir para bater na porta?

- Muitas e muitas - a menina respondeu ainda agarrada no pescoço do irmão, rindo - mas dessa vez, se quiser brigar com alguém, briga com aquele moço que está ali na porta. Ele que me falou para te dar um sustão.

Heather escorregou do pescoço de Herman, permitindo que o rapaz se virasse para ver quem havia chegado. Um sorriso de felicidade se estampou no rosto do rapaz ao ver um homem moreno e alto, quase uma cópia mais velha do próprio Herman, não fosse o cavanhaque que se destacava no rosto. Era seu padrinho, Jack Mercury.

- Tio!!! - ele levantou de sopetão, dando um abraço no padrinho - Achei que ia chegar só na hora da ceia!

- Vim mais cedo este ano. Achei que mamãe ia gostar de uma ajuda extra, já que a Andie ficou presa na América.

O homem sentou-se na cama do sobrinho, enquanto Heather, praticamente pulava nas costas de Jack, se acomodando ali para participar da conversa. Herman meneou a cabeça, a irmãzinha realmente não tinha um senso muito bom sobre o que seria privacidade. Será que não passava pela cabeça da Chispinha que talvez ele quisesse falar a sós com o padrinho? O melhor era se conformar, assim sendo, sentou-se ao lado dos dois na cama.

- Vi a ruivinha ontem na minha loja. - Jack começou - Ela foi comprar um presente para o Nick. Ela estava menos alegre que o normal, mas achei melhor não comentar nada. Vocês não estão com problemas na escola, estão?

Herman coçou a cabeça por alguns segundos antes de responder. Problemas na escola era algo relativo, mas definitivamente estar envolvido na investigação de supostos comensais juvenis infiltrados em Hogwarts poderia ser classificado como um problema. Contudo, não queria preocupar o tio com aquela situação. Além do mais, ele sabia que a tristeza da amiga nada tinha a ver com o Olho do Grifo ou mesmo o Olho da Serpente.

- Você se importa se eu manter segredo disso? Te juro que não é nada perigoso ou com que precise se preocupar ou mesmo deixar o sr. Johnson preocupado. Mas é uma coisa da Meri e não posso dizer sem autorização dela.

O homem mais velho sorriu para tranqüilizar o afilhado.

- Por mim, tudo bem. Pelo que conheço dos dois, mais cedo ou mais tarde ela vai acabar contando para o pai, e Nick sabe lidar com esse tipo de coisa. A minha preocupação era que o problema dela também envolvesse você.

Herman abaixou o rosto. No começo talvez os problemas da amiga fossem os mesmos que os dele, mas agora, tirando sua preocupação com a ruiva, nada daquele assunto lhe dizia mais respeito. Era estranho como as coisas mudaram tanto em tão pouco tempo, e ao mesmo tempo parecia tão certo e tão natural.

- Pode relaxar, tio. Eu não poderia estar mais feliz.

- É verdade! - Heather interrompeu o irmão mais velho, e deixando-se cair para trás na cama dele, disse - Herman arrumou uma namorada!!!

A cor do rosto de Herman saiu de um tom claro até alcançar a mais forte escala do vermelho. Era quase de um púrpura escaldante. Será que Heather estava apenas tirando onda com ele como de vez em quando gostava de fazer ou ela sabia alguma coisa sobre Lorelai?

- C-como você sabe?

A menininha assoviou, fingindo-se de desentendida.

- Um passarinho vermelho e outro amarelo me falaram - ela respondeu, quase cantarolando.

O mais velho dos irmãos Mercury arqueou a sobrancelha, a caçula estava aprontando alguma coisa ou realmente estava apenas brincando com ele. Herman estava disposto a fazer Heather confessar tudo. Estava prestes a pular em cima da irmã e enche-la de cosquinhas até que ela soltasse a língua quando sentiu-se sendo puxado pelas mãos do tio. No instante seguinte, estava com a cabeça presa debaixo do braço direito de Jack, enquanto a mão esquerda do tio em um punho fechado friccionava o couro cabeludo do rapaz em um arremedo de cocão.

- Aeeeeeee, moleque. Escondendo o jogo do velho Jack aqui, é? Arruma namorada e não conta nada para o padrinho não?

Herman não respondeu. Sabia que não adiantava espernear ou reclamar. Às vezes Jack Mercury era mais criança que os dois sobrinhos juntos. Depois de um tempo, o homem deixou o sobrinho livre para responder a enxurrada de perguntas que ele iria despejar sobre ele.

- E então - começou Jack entre o divertido e o curioso - está namorando ou não?

O mensageiro encarou o tio por alguns segundos sem saber exatamente o que responder. Não havia feito nenhum pedido normal, sequer chegara a beijar Lorelai - e não foi por falta de tentativa, mas, ainda assim, para ele, depois da festa do Slughorn, a única coisa que realmente faltava para concretizar o namoro era o beijo.

- Acho que posso dizer que estou namorando sim. - ele respondeu, sorrindo, mal contendo no peito a felicidade em poder dizer isso em voz alta - A gente ainda não se beijou, mas acho que dessa vez vai dar certo. Dessa vez eu realmente estou apaixonado.

O semblante de Jack ficou ligeiramente mais sério ao escutar a fala do sobrinho, compreendendo perfeitamente o que ele queria dizer. Então a menina por quem Herman estava apaixonado não era a tal francesa. As coisas pareciam não ter dado certo com a loira. Talvez, quando estivessem apenas os dois, o sobrinho se sentisse mais a vontade para contar como se deu essa reviravolta. Contudo, Jack tinha que admitir que em todos aqueles anos em que Herman lhe pediu conselhos sobre o que fazer, nunca vira uma expressão tão feliz e iluminada no rosto do sobrinho quando ele falava da outra menina.

- Eu não disse? - a voz de Chispinha se fez ouvir mais, alto, chamando a atenção dos dois - Tá namorando! Tá namorando! Tá namorando! Tá namorando!

Ela cantava, enquanto dava pulinhos na cama, em um arremedo de dança. Daquela vez, Herman não se segurou, pulando em cima da irmã, e enchendo a barriga dela de cócegas.

- Estou sim, moleca, mas deixa eu conversar com a Lore primeiro antes de você espalhar para a família inteira e para a metade de Hogwarts!

- Eu prometo! Eu prometo! Eu prometo! - ela respondeu entremeio aos risos.

O rapaz largou a irmãzinha caçula, que se levantou, com um enorme sorriso no rosto.

- Posso contar para a Fê? A gente promete guardar segredo... Pelo menos até você deixar de ser besta e beijar a Lore.

Herman deu um tapa na cabeça. Definitivamente a irmã era muito mais ativa que ele. Ela iria dar um trabalho enorme quando chegasse a época em que começasse mesmo a se interessar por garotos.

- Tudo bem. Mas se quebrar a promessa, vai se ver comigo.

Ela piscou marotamente para o irmão, enquanto se levantava da cama.

- Olha só, vou lá agora escrever para a Fê e depois eu volto.

No instante seguinte, a menina cruzava a porta como o foguete que ela era. Herman apenas balançou a cabeça. A irmãzinha era completamente maluca. Apostava que mesmo se ele não tivesse deixado, ela acabaria contando para Felicity. Pelo menos conseguira arrancar dela a promessa de que as duas só abririam a boca sobre o assunto quando ele se acertasse de uma vez com a Fada Prensada.

- E então? - a voz de Jack fez Herman voltar à realidade - Pelo visto tem muita coisa para me contar, não é? Pega o casaco. Vamos sair! Pelo que te conheço vai querer um pouco de privacidade para me contar timtim por timtim sobre essa nova menina.

O rapaz sorriu abertamente, pegando imediatamente o casaco que estava em cima da cadeira. Tudo o que ele mais queria desde a festa do Slug era conversar com alguém sobre Lorelai. Não por cartas ou pergaminhos, mas pessoalmente. E não poderia ter pessoa melhor para isso que seu tio Jack.

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