sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Capítulo 1
Almost Home



A casa, vista de fora, aparentava ser pequena ao considerar quantas pessoas residiam ali. No entando, ao cruzar a porta de entrada, o que se via não era nada suntuoso, mas confortável e mais amplo que quando comparado com a visão externa.

A primeira impressão que se tinha da sala de estar era de uma sala relativamente comum. Observando-a com um pouco mais de atenção, nos porta-retratos haviam fotos que acenavam. Em várias delas se podia ver os rostos de Lorelai e Felicity.

- Chegamos, Melinda. - Mary Elizabeth, ou simplesmente Liz, mãe de Lore, dava as boas-vidas à enteada, que visitava sua casa pela primeira vez - Preparamos um cantinho pra você se aconchegar no quarto das meninas. Achei que você fosse ficar mais à vontade com elas, mas se preferir um pouco mais de privacidade, pode ficar também num dos quartos de hóspedes da casa de minha mãe, logo aqui na frente.

A jovem senhora finalizou o breve discurso com um sorriso sincero.

- Obrigada pelas boas-vindas, Liz. E prefiro ficar aqui com vocês. - Dashwood respondeu sinceramente.

Dois meninos - um pouco mais novo que Felicity, e outro bem menor, desceram correndo as escadas.

- Pai, elas chegaram! - Matthew, o mais velho, chamava o genitor.

- Oi! - o garoto cumprimentou a moça. Ganhou um abraço de Lore e um resmungo da Fe.

Liz apresentou as crianças.

- Melinda, esses são Matthew e Raphael, os seus irmãos mais novos. Meninos, essa é a Melinda, a irmãzinha que falei pra vocês.

- Ué, mãe, cadê papai? - Lorelai perguntou, olhando as escadas.

- Estava lá em cima quando saímos.

A quintanista abriu a boca para perguntar porque então ele não fora buscá-las na estação, uma vez que estava em casa, mas achou mais prudente calar e poupar a visitante daquele papelão. Lore já estava acostumada com o jeito sério, calado e distante do pai, mas talvez não fosse essa a expectativa da meia-irmã.

- O que acha de subirmos, tomarmos um banho e descermos rapidinho para comermos? - a fada prensada convidava a setimanista, já se dirigindo rumo aos degraus que davam acesso ao andar superior. - Mark, por favor, ajuda a gente a levar essa tralha?

O tio das meninas, resignado com a sina de ajudante de sobrinhas, sorriu e fez um comentário engraçadinho.

- Ok, mas isso vai custar 5 galeões para cada mala.

- Mark, você está inflacionando! - Lorelai ria, fingindo protesto.

- É, mas quem sabe assim você aprende a carregar menos bagagem e dá um bom exemplo para a sua irmã?

- Ei! - a fadinha esbravejou - Mas a bagagem não é toda minha, tem metade aí que é da Mel!

- Sim, mas ela é visita. - finalizou o tio, com um sorriso cínico.

Lore abriu a boca para responder, mas resolveu calar-se, mais uma vez. Afinal, ela e a irmã já estavam se acostumando com a presença de Dashwood em suas vidas, mas as pessoas em sua casa viam tudo aquilo ainda como uma grande novidade.

Abrindo a porta do seu saudoso quarto, a moreninha de cabelos agora lisos entrou, jogando-se em cima de sua cama, enquanto a branquelinha de cabelos muito negros pulava na dela.

- Acho que aquela ali do canto é a minha, não é? - a moça mais velha observou apontando para uma cama no extremo do quarto.

Melinda passou os olhos nos detalhes da decoração improvisada, contra a vontade de Liz, do quarto das meninas. Nas paredes, até quase na altura do teto, haviam vários pôsteres e fotografias em murais. Boa parte das imagens era de um quarteto que Dashwood desconhecia. Notando o olhar curioso da irmã, Lore decidiu apresentar o quarto e as fotos.

- São uma banda trouxa. - a moreninha explicava. - Aquele ali de óculos redondinho já até morreu. Na verdade a banda nem existe mais e nem é da nossa época, mas eu prefiro as músicas mais antigas. Mamãe diz que ela nem era ainda adolescente quando eles começaram a fazer um baita sucesso. The Beatles, eles se chamavam. Tenho vários CDs aqui, se você quiser ouvir algum dia.

- Banda trouxa? Você gosta? CD? O que é um CD? - Melinda tentava assimilar tanta informação nova junta.

- Isso é coisa do vovô... - Felicity tentou explicar alguma coisa para parecer importante. - Bom, pelo menos é o que a mamãe diz...

- Vovô faleceu há 03 anos. Ele era amante de tudo que se relacionava ao mundo trouxa e influenciou a gente. Diga, Mel, você conhece cinema trouxa? É tão legal! E os livros trouxas então? Caracas, quando li um livro de fantasia pela primeira vez fiquei abestalhada com a visão que eles têm do mundo mágico! - Lorelai contava empolgada.

- E é por isso que a senhorita faz Estudo dos Trouxas, certo? - a mais velha concluiu.

- Elementar, minha cara Dashwood. - a fadinha piscou.

Dashwood continuava prestando atenção nos detalhes do quarto, nos retratos das meninas dando adeusinho pra ela nos murais. Reconheceu Samantha Blair, uma das amigas de Lore, em várias fotos. Observando o que a irmã reparara, a quintanista abriu a bolsa e retirou dela um maço de novas fotos, contendo desta vez Mina, Herman, Meridiana, Raven, Satanio e é claro, Samantha. Começou de imediato a substituir algumas fotos mais antigas pelas recentes, dando o lugar de destaque merecido aos seus novos amigos.

- Depois do feriado, vamos colocar várias fotos suas também. - Felicity já foi avisando.

- Inha, onde posso colocar minhas coisas? - Melinda interrompeu a diversão da fadinha, já distraída na sua tarefa de arrumar os murais.

- Aff, que tonta eu sou! Pode brigar comigo, eu sou mesmo uma mal-educada. Na boa, não sei receber as pessoas, pra mim todo mundo é de casa, não liga. Quer dizer, não que você não seja, mas acabou de chegar e então... Ah, deixa pra lá, vamos colocar suas coisas no armário, mamãe com certeza separou pelo menos uma das partes para você.

Assentindo com a cabeça, Dashwood começou displicentemente a abrir as portas do guarda-roupa, tentando descobrir qual delas estaria disponível. O que viu logo na primeira fez com que a setimanista involuntariamente soltasse uma sonora gargalhada. Na face interna da porta de madeira, havia um pequeno mural de cortiça, com um único recorte do Profeta Diário, onde estava estampado uma foto enorme de Harry Potter na ocasião do torneio tribruxo.

- Mas que diabos é isso aqui, Lore? - a mais velha não sabia se ria, se chorava, se dava uns cascudos na irmã ou o que.

Vendo-se descoberta de maneira tão inesperada, a quintanista voou na porta, arrancando o recorte da cortiça com a sutileza de um cão de três cabeças. Em questão de segundos, o pergaminho havia se dividido em minúsculos pedacinhos.

- Passado negro e sombrio, e como quem vive de passado é museu, melhor jogar isso bem longe. - disse Lorelai, enquanto substituía o recorte por uma foto dela própria, junto de Herman e Mina - Bem melhor assim!

Dashwood observava a nova imagem de maneira quase intrigante.

- O que foi, Mel? Já tirei o Legume Potter do meu guarda-roupas, qual é o problema agora? - a fada prensada parecia ligeiramente aborrecida.

- Nada. - Começou Melinda - Só estou me perguntando por que você não colocou uma bem bonitinha só com o Mercury.

Lore olhou de soslaio para a irmã.

- Porque eu não quero certas intromissões, se é que me entende. Mamãe me arranca a pele com as unhas se sonhar com uma coisa dessas. Ela não vai me deixar namorar nem tão cedo... Logo, não preciso dar asa à cobra, certo? - E notando o ar de quem iria soltar mais alguma pérola irônica e a agente Canela sabia bem o que seria, tratou de se antecipar - E deixar Harry Potter no meu armário é algo aceitável, uma vez que o legume é uma celebridade bruxa. E tenho dito. Agora chega de explicações. Vamos comer.

Felicity, do contra, lembrou:

- Mas você não disse que a gente ia tomar banho e tralalá primeiro?

- Mudei de idéia. Tô com fome. E fico mal-humorada com fome. Vamos.

E saiu do aposento, deixando as duas para trás.

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