quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Capítulo 5
Paperback Writer



A menina de olhos caleidoscópicos estava folgadamente deitada no sofá de sua casa. Havia um entra e sai de gente que deixaria qualquer um que tentasse se concentrar em algo a ponto de explodir. No entanto, Lorelai estava centrada num pergaminho, rabiscando qualquer coisa que não a deixava prestar atenção na bagunça ao seu redor. Não se tratava de nada relacionado à escola ou ao Olho do Grifo, mas apenas suas anotações sobre o feriado, uma espécie de diário de bordo. Não percebeu quando uma moça morena de orbes azuis se sentou no chão, ao seu lado, e passou rapidamente os olhos no que Lore escrevia.

- O que Butterfly tanto escreve aí, tão quietinha? Carta para o Mercury? - Melinda provocou de leve a irmã, com um sorriso malicioso nos lábios.

- Não, e pelamordemerlim, fala baixo, Mel. - a mais nova respondeu, olhando de soslaio para os lados, verificando se havia mais alguém que pudesse ouvir a conversa. - Mamãe me arranca o couro se sonhar com essa história...

Dashwood deu os ombros.

- Não entendo porque tanto medo da Liz descobrir sobre o Mercury. Na verdade, você mesma disse que não estão namorando... Embora eu duvide muito de que a coisa fique parada nesse ponto... Bom, mas então o que você está escrevendo se não é uma carta para o seu amigo colorido?

- Nada demais... Só rabiscando qualquer coisa pra não perder o costume, insanidades que se passam na minha cabeça caleidoscópica, nada além disso. - Lorelai sorriu.

- Pelo visto você gosta mesmo de escrever, não é, maninha? - a garota mais velha instigou. - E que tipo de coisa você escreve? Crônicas, pensamentos? Posso ler alguma coisa qualquer dia desses?

A mais nova corou, não esperava por esse interesse repentino da irmã mais velha nos seus manuscritos, na maioria das vezes, non sense.

- Não é nada demais mesmo, mas se você quiser ler alguma coisa, tenho aqui alguns textos soltos... É, como eu disse, mais uma espécie de diário aleatório suspenso no fantástico mundo de Lore do que qualquer outra coisa, nada que eu ache que realmente valha a pena, mas se você você realmente quiser ver...

A moreninha estendeu a mão com alguns pergaminhos contendo textos variados, que continham desde seus apontamentos sobre as férias até a importância das pessoas que a cercam em sua vida. Melinda passou os olhos rapidamente, deixando escapar um sorriso discreto.

- Você escreve bem, Butterfly... E tem algumas passagens que acredito eu, só você as entende, não é? Muitas metáforas... Eu queria poder escrever assim algum dia. Preciso confessar que sou fã de bons textos. Diga-me, inha, você já teve a curiosidade de ler alguma edição do Olho do Grifo? Você sabe do que eu estou falando, né?

Lorelai sentiu um nó na garganta e uma sensação gelada na boca do estômago. Não esperava que a irmã tivesse conhecimento sobre o jornal, ou mesmo interesse nesse tipo de coisa. Não sabia como reagir, nem o que retrucar. Na dúvida e no supetão, respondeu o que lhe veio de imediato na cabeça.

- Não conheço os textos... Já ouvi falar do fanzine, mas nunca li...

- Então não sabe o que está perdendo... - Dashwood piscou - As autoras realmente fazem um ótimo trabalho, e já que você gosta tanto de escrever e ler, devia dar uma bisbilhotada qualquer hora dessas. Eu gostaria muito de saber me expressar como elas...

A quintanista observava a irmã, quase incrédula. Melinda não só era leitora do Olho, como também já havia lido seu texto, uma vez que mencionara as autoras, no plural. Retomou o ar de naturalidade, tentando parecer o mais causal possível. Ninguém, absolutamente ninguém poderia suspeitar de quem estaria envolvido na publicação do fanzine, nem mesmo suas irmãs. Outrora, o jornal que fora uma manifestação anti-Umbridge, no momento atual fazia parte de um contexto bem mais sério e terrivelmente perigoso. Apesar de parecer sempre avoadinha e um tanto inconseqüente, Lorelai tinha os pés no chão quanto à gravidade da coisa quando se envolvera nela. Claro que a verdade foi sendo trazida à tona aos poucos, mas como ela mesma dissera ao mensageiro, não era possível acreditar, mesmo antes de conhecer sobre as investigações e se envolver nelas, que estariam seguros em Hogwarts como se sob uma redoma enquanto o mundo caía sobre as cabeças das pessoas do lado de fora dos muros do castelo. Depois de uma respiração profunda e controlando friamente os nervos à flor da pele, disse sem emoção na voz:

- Obrigada pela dica, Inha, vou procurar algum texto qualquer hora dessas...

Melinda assentiu, sorrindo. O semblante da moça transformou-se de repente, e um ar de curiosidade estava nitidamente estampado nele. Dashwood apoiou os braços no sofá, encarando a irmã.

- Mudando de assunto... O que você vai dar para o Mercury de presente de natal?

Lore arregalou os olhos. Tinha pensado no assunto, chegara a planejar alguma coisa, mas não havia chegado a nenhuma conclusão a respeito.

- Bom, eu... Hã... Eu ainda não sei...

- Como não sabe??? - a mais velha a interrogava entremeio aos risos - Cabecinha de borboleta, o natal é essa noite, você precisa correr!

McGuire coçou a cabeça.

- Eu queria fazer algo especial, mas o tempo não me ajuda... Bom, eu até pensei em comprar lã e fazer algo manual, mas não tenho tempo hábil pra isso...

- O que me diz de sairmos para comprar o que você precisa? Você cozinha?

Lore assentiu. Afinal, se não lhe falhava a memória, fora criada para ser uma amélia perfeita e completa. Carreira viria por consequência em sua vida, segundo os planos de sua mãe.

- Ótimo! - Melinda respondeu. - Você pode preparar alguma coisa personalizada, algo como chocolates, biscoitos, coisas assim, e enviar hoje, junto com um cartãozinho simpático, avisando que o presente definitivo vai depois, pessoalmente, o que acha?

A mais nova abriu um enorme sorriso. Sua mãe passaria o dia todo na casa de sua avó preparando a ceia para mais à noite, logo a cozinha estaria livre para ela. As duas irmãs vestiram os casacos e já estavam na porta quando ouviram uma vozinha fina atrás delas.

- Esperem aí, eu vou com vocês! - Felicity vestia apressada seu próprio casaco e se aquecia com um gorro de lã e seu cachecol, todos meio tortos devido à pressa da pequena, tentando acompanhar o passo das duas irmãs mais velhas e não ficar para trás na aventura pelas ruas gélidas do inverno de York à caça de presentes de natal para o irmão da Chispinha.

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